Planejamento e Obtenção do C de Ouro
A busca pela insígnia.
Desde 1995, quando consegui obter o Diamante de 300 Km em um campeonato em Palmeira das Missões, que busco atingir o ganho de altura de 3000 metros para completar a insígnia C de Ouro. Em várias oportunidade estive muito perto desta marca, mas sempre faltava uma centena de metros para fechar o registro. E não foram muitas as oportunidades, pois esta é uma condição meteorológica que ocorre em alguns lugares, por poucos dias no ano e nem todo ano. Ou seja, é mais ou menos como encontrar uma mosca branca.....
A dificuldade de estar no lugar certo, na hora certa e com o equipamento adequado me obrigou a me dedicar ao estudo de meteorologia, aplicado ao voo à vela.
Histórico
Alguns aeroclubes adotam Brevetes para pilotos de planador que são concedidos a medida que eles evoluem tecnicamente na prática de voar planador.
A FAI adota basicamente o C de Prata, C de Ouro, os 3 Diamantes e o Diploma de 1000KM.
O C de Prata é tido como a primeira insígnia, onde o piloto efetivamente deixa o ninho. Três tarefas são requeridas para a obtenção desta insígnia, um voo com duração de no minimo 5 horas desligado, um ganho de altura liquida de no minimo 1000 metros e uma navegação de no mínimo 50 Km em linha reta do ponto de desligamento até um objetivo; essas três tarefas podem ser realizadas em um único voo ou mais.
O C de Ouro é obtido com a realização de 3 tarefas em voo: 5 horas de voo desligado, uma navegação de no mínimo 300 Km e um ganho de altura líquida de 3000 metros, que da mesma forma podem ser realizados em um único voo ou mais. A navegação pode ser realizada em vários circuitos conforme FAI SC3 itens 1.4.2d a 1.4.2h.
Para o C de Parta e Ouro as 3 tarefas devem ser realizadas no período de 12 meses, se em voos diferentes.
Para o C de Parta e Ouro as 3 tarefas devem ser realizadas no período de 12 meses, se em voos diferentes.
Os três Diamantes são respectivamente:
- Navegação de 300 Km pré declarados, em circuito Ida e Volta ou Triângulo .
- Navegação de 500 Km pré declarados, conforme FAI SC3 itens 1.4.2d a 1.4.2h.
- E ganho de altura líquido mínimo de 5000 metros.
Cabe aqui lembrar que esses Brevetes somente são obtidos em voos SOLO, ou seja o piloto não pode estar acompanhado, diferentemente dos Recordes que podem ser realizados em planadores biplace e acompanhados.
Uma dúvida muito frequente é a questão das navegações terem que ser pré-declaradas. Hoje a FAI requer pré declaração para todas as navegações referentes às insígnias. Talvez pela grande facilidade das ferramentas eletrônicas de auxílio ao voo. As navegações para os recordes LIVRES são as únicas que não necessitam pré-declaração.
Uma dúvida muito frequente é a questão das navegações terem que ser pré-declaradas. Hoje a FAI requer pré declaração para todas as navegações referentes às insígnias. Talvez pela grande facilidade das ferramentas eletrônicas de auxílio ao voo. As navegações para os recordes LIVRES são as únicas que não necessitam pré-declaração.
Se olharmos os registros da Federação hoje vamos encontrar os seguintes números:
- C de Prata - 441 registros
- C de Ouro - 50 registros
- Diamante 300 Km - 130 registros
- Diamante 500 Km - 39 registros
- Diamante 5000 metros - 10 registros
- Diploma 1000 Km - 3 registros
Isto mostra o grau de dificuldade de cada uma dessas insígnias.
A Escolha do Local
Bebedouro foi descoberto por um de nossos colegas, Francisco Galvão, estudioso de meteorologia, que apontou a cidade como a mais próxima de São Paulo (capital) e que tem um clima na primavera muito próximo ao clima desértico. Noites muito frias e dias muito quentes. Coeficiente de evaporação bastante alto comparado com os outros centros de Voo à Vela da região sudeste. Sem falar na infraestrutura oferecida pela região (Triângulo do Sol) quer em estradas, comunicações, terras aradas, pistas homologadas e agrícolas, que no caso de um pouso fora é uma opção.Por estar residindo em Sorocaba, consigo fazer a previsão meteorológica na véspera do voo e com 4 horas em estradas de excelente qualidade consigo chegar em SDBB para uma boa noite de sono e estar pronto no aeroclube as 09:00.
2019 e o Grupo 2 do B3 (Discus)
Em Agosto de 2019 formamos um grupo para voar o Discus B3 da FBVP, início de temporada a primavera batendo em nossa porta. Tinha então o equipamento adequado, pois por uma determinação da Federação as minhas marcas não eram mais válidas para a obtenção do C de Ouro, teria que refazer todas as três tarefas. Isso implicava que além do ganho de altura de 3000 metros teria que refazer os 300 Km e as 5 horas...... Sim se fizesse o ganho de altura teria 12 meses para completar as outras duas tarefas, mas porque não fazer tudo em um único voo?
Iniciei o mês de Agosto focado em verificar todos os dias a Meteorologia para toda uma semana adiante, pois se a condição aparecesse não poderia perder a oportunidade.
Requisitos para obtenção do ganho de 3000 metros.
O ganho líquido de altura é definido pela altura mínima voada após o desligamento do reboque e a altura máxima voada depois deste ponto mínimo. Ou seja vamos imaginar que faça um desligamento a 300 metros (AGL) e que inicie a subida; se atingir 3301 metros (AGL) o ganho está garantido. Mas numa proposta como esta não podemos esquecer que coisas acontecem...... imagine se o meu registrador principal (NANO IGC) venha falhar, por qualquer motivo o único registro que terei será o registro de um GPS, que é aceito pela Federação mas pago um pedágio de 100 metros, ou seja terei que atingir 3401 metros pelo registro eletrônico do GPS para compensar essa falha. Ou seja arredondando as contas terei que encontrar uma Base de 3500 metros para estar seguro.
Iniciando o treinamento....
Já no final de Julho, quando os ajustes finais para voar o B3 estavam em andamento comecei o treinamento para o desligamento a 300 metros, e é claro foco na meteorologia. Perder um lançamento implicaria em um atraso significativo para o início da próxima tentativa o que poderia inviabilizar os 300 Km e as 5 horas. Bebedouro tem no setor Sul da pista um arado que sempre desprende alguma coisa.... e por outro lado você já vai estar na posição da perna do vento para base, ou na pior hipótese de base para final...... e fiz vários voos nesta condição.... todos sempre muito bem sucedidos e sem precisar de um novo lançamento.
O planejamento do voo.
Diante das três tarefas: 5 horas, 300 Km e ganho de 3000 metros.... o planejamento seria mandatório para o sucesso.
- 5 horas >>>>> decolar o mais cedo possível (TIC = 900 metros)
- 300 Km // 3000 metros >>>>>> polígono planejado para estar no meio do dia no lugar com maior probabilidade de obter o ganho...... lugar alto >>>>>> MONTE ALTO!
A primeira tentativa.
A Meteorologia estava OK, quinta feira (29/08/2019) saí de Sorocaba para Bebedouro. Na sexta peguei o KW-1 (EW) para a tentativa somente do ganho de altura.... primeira decolagem nada ... segunda decolagem, o que estava previsto não se realizou.... altura minima depois do reboque 188 metros, altura máxima 2570.... o que estava acontecendo? A previsão furou? um voo treino....
No sábado 31/08/2019, duas decolagens perdidas o dia estava muito diferente do previsto.... o que estava acontecendo..... desisti e voltei para casa no próprio sábado ..... na estrada o dia virou noite, parecia coisa do apocalipse..... o que estava acontecendo????
Lembram da queimada da Amazônia...... não existe modelo matemático que possa fazer tal previsão.... mas valeu o treinamento.
No sábado 31/08/2019, duas decolagens perdidas o dia estava muito diferente do previsto.... o que estava acontecendo..... desisti e voltei para casa no próprio sábado ..... na estrada o dia virou noite, parecia coisa do apocalipse..... o que estava acontecendo????
Lembram da queimada da Amazônia...... não existe modelo matemático que possa fazer tal previsão.... mas valeu o treinamento.
Finalmente chegou a hora!
O mundo todo voltou seus olhos para apagar o fogo da Amazônia e eu só tinha olhos para a Meteorologia.... primeira semana de Setembro o Tephigrama já mostrava que a coisa ia melhorar.... atenção redobrada e quando as previsões eram favoráveis parti para SDBB (11/09/2019)!
Convenci o Gudin que tinha acabado de fazer o Diamante de 300 Km a ir.... seríamos um o observador oficial do outro..... Ele deixou uma reunião de trabalho e foi....
A previsão para o dia 12/09/2019 era de possível base com 4000 metros AGL! Difícil de acreditar... e com ventos inferiores a 15Km/h. Não podia preder essa oportunidade! Acreditei e coloquei o B3 na pista as 11:00 com tudo checado e rechecado..... Decolagem as 11:28, desliguei próximo de 400 metros e caminho da roça..... desci sobre o arado ao lado da pista e fui pegar a térmica a exatos 190 metros já na posição de vento para base.....
Subi até 1300 metros e dei largada (nada como garantir a chegada baixa) para os 300 Km.... até a Faz. Califórnia tudo tranquilo, fiquei um pouco baixo mas segui... em cima da Fazenda Brumado peguei a térmica que já me deixou praticamente a 2000 metros agl. E para minha surpresa e desespero começou a formar nuvens, o que não estava previsto....... mais umidade..... a base poderia ser mais baixa do que a prevista... segui para Monte Alto! Antes de SDBB eu já estava colando na base real das nuvens formadas a 3500 metros agl.... O Ganho de altura já estava no bolso..... o dia ficou tão bom que andando reto debaixo das nuvens a uns 130 Km/h o Climb não era menor que +1 m/S. Foi memorável....
300 Km completados, detalhe cruzei a linha de chegada a 2700 agl, agora era administrar para concluir as 5 horas de voo..... o que foi muito tranquilo........
Devia ter marcado 500Km!
https://www.onlinecontest.org/olc-3.0/gliding/flightinfo.html?dsId=7595589
No dia seguinte, o piloto Édipo de SDBB decolou com o EW e registrou o ganho de 3000 metros, agora tem até 12 de Setembro de 2020 para concluir a insígnia C de Ouro.
Agradeço ao Talles, Heber, Robinson e Valença pela parceria no Grupo do B3; à FBVP por ceder o seu planador para que pilotos possam atingir seus objetivos e progredirem tecnicamente. Ao ACB, por disponibilizar sua infraestrutura permitindo assim que possamos voar a qualquer dia da semana.
Subi até 1300 metros e dei largada (nada como garantir a chegada baixa) para os 300 Km.... até a Faz. Califórnia tudo tranquilo, fiquei um pouco baixo mas segui... em cima da Fazenda Brumado peguei a térmica que já me deixou praticamente a 2000 metros agl. E para minha surpresa e desespero começou a formar nuvens, o que não estava previsto....... mais umidade..... a base poderia ser mais baixa do que a prevista... segui para Monte Alto! Antes de SDBB eu já estava colando na base real das nuvens formadas a 3500 metros agl.... O Ganho de altura já estava no bolso..... o dia ficou tão bom que andando reto debaixo das nuvens a uns 130 Km/h o Climb não era menor que +1 m/S. Foi memorável....
300 Km completados, detalhe cruzei a linha de chegada a 2700 agl, agora era administrar para concluir as 5 horas de voo..... o que foi muito tranquilo........
Devia ter marcado 500Km!
https://www.onlinecontest.org/olc-3.0/gliding/flightinfo.html?dsId=7595589
No dia seguinte, o piloto Édipo de SDBB decolou com o EW e registrou o ganho de 3000 metros, agora tem até 12 de Setembro de 2020 para concluir a insígnia C de Ouro.
Agradeço ao Talles, Heber, Robinson e Valença pela parceria no Grupo do B3; à FBVP por ceder o seu planador para que pilotos possam atingir seus objetivos e progredirem tecnicamente. Ao ACB, por disponibilizar sua infraestrutura permitindo assim que possamos voar a qualquer dia da semana.